Eu ainda sou do tempo em que a Comporta tinha porta, sim era Comporta com porta, a sua porta era representada pela impossibilidade de lá chegar pois a língua negra de asfalto terminava um pouco depois do cruzamento para Murta, por obra e graça do espírito santo, só se passava de jipe ou tractor, recursos então ao alcance de poucos.
Assim algumas das vezes aproveitávamos para ir até Murta comer uma sopa de tomate numa tasca que lá havia, pertença de um simpático casal, o sítio tinha uma modesta sala de refeições no casario que circundava uma praça de terra batida, depois da dita sopa regressávamos a casa, pois já sabemos aquela era uma via sem saída, mas ao menos saímos de lá com o estômago reconfortado.
Nessa época se queríamos ir à Comporta só era possível dando a volta por Grândola, mas como os recursos eram escassos acabava-se quase sempre a banhos na lagoa de Melides que o mar aí sempre foi perigoso, os carros e estradas não eram como os de agora, o que tornava um dia de lagoa numa verdadeira aventura, estada e viagens incluídas.
Para terem uma ideia nesse tempo no veículo transportava-se sempre um garrafão com água, não para matar a sede, mas para dar de beber ao radiador e não faltavam também um alicate universal, uma chave de fendas e a célebre correia da ventoinha, não fosse o diabo tecê-las e era sempre melhor que a lotação fosse completa, isto para o caso de ser necessário empurrar a viatura.
Veio depois o tempo em que a estrada se estendeu até à Comporta, o tempo em que a Tróia era do povo, existia lá um parque de campismo imenso sempre povoado de tendas, roulotes, íamos de quando em vez à imensa piscina da Torralta, serviam por lá um sorvete em copo de plástico, tinha em casa uma imensidão desses copos, serviam para fazer castelos e outras construções que a imaginação ditasse.
Imaginem lá que nem sequer era preciso ficar no parque de campismo, acampávamos nas dunas e praias, um pouco por toda a costa vicentina, nem me lembro bem se na altura já seria vicentina, mas que eram umas férias à maneira lá isso eram, outros tempos em que as Troias e Comportas eram frequentadas quase e só por malta desta e eu ainda sou desse tempo.
Isto é que é ser velho...será do século passado? Com toda a certeza...o século passado ainda foi há tão pouco tempo.
Será que essa era a melhor Comporta? Não concordo. Gosto muito mais do movimento que hoje por lá se vive. Gente gira, perfumada, de linguajar arrastado. E a loja da ti Fernanda, uma maravilha, não há muitas assim, nem pela capital. Por isso abençoado tempo moderno. Venha o reboliço e o ambiente selecto! E só mais uma coisa...eu nem gosto lá muito de sopa de tomate!
Nota da redacção: estes dois últimos parágrafos são da tonta da Maria que resolveu sabotar-me o artigo.
Alguém alguma vez disse “... aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos ...” e tenho algumas dúvidas de que alguma vez aprendamos, pelo menos a julgar pelos exemplos recentes que nos entram pela casa dentro, todos os dias à hora dos telejornais.
O caso mais recente chega-nos agora de França, que tem como símbolo original, é bom não esquecer, “liberdade, igualdade, fraternidade ou morte”, bom pelo menos para alguns, porque para uns quantos, julgo saber que são setecentos de uns quinze mil, e pelo menos para já a coisa é bem diferente, pois segundo o Sr. Presidente estão a mais nestes tempos de crise e têm que ser repatriados.
Repatriados curiosamente para duas outras pátrias, a Roménia e a Bulgária que também já fazem parte do espaço europeu e que em conjunto advogam a livre circulação de pessoas e bens, mas então provavelmente os ciganos não serão pessoas, será possível ? então e isso significa que a seguir irão os outros catorze mil trezentos ? não creio que esteja aí a solução para nada Sr. Presidente, nem mesmo para a crise.
Mas a resposta a estas interrogações parece vir agora de Itália que aplaude a medida e resolveu pedir autorização à união europeia para também expulsar alguns ciganos, uma vez que considera que as condições de vida dessas pessoas não são adequadas, mas depois vão expulsá-los para países da união europeia, tal como a França, mas que grande trapalhada senhores italianos e franceses.
Então como estas pessoas são, ao que parece cidadãos da união europeia, mas não têm condições de vida adequadas, isso significa que vamos ter que prever na Europa a criação de uma nação para pessoas com condições de vida inadequadas, talvez um super gueto, ou um colonato, isolado por um muro de betão e arame farpado, está na moda por muito lado, porque não por cá também ?
E se a moda pega a seguir a estes tiques nacionalistas e securitários só falta aparecer por aí um dirigente baixote, de pele morena, franja bem alinhada e descaída sobre o olho esquerdo e com um bigode estreitinho à largura do nariz ... eu sei que a história se repete ciclicamente, mas tenham calma ainda é cedo, isto tudo devem ser só efeitos dos calores da época agravado pela vaga de incêndios e com certeza assim que a temperatura baixar, logo, logo, os dirigentes desta nossa querida Europa cairão de novo na real e rapidamente voltaremos à liberdade, igualdade e fraternidade,... ou a morte de tão nobres ideais.
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ResponderEliminar“Com porta”
ResponderEliminarEu ainda sou do tempo em que a Comporta tinha porta, sim era Comporta com porta, a sua porta era representada pela impossibilidade de lá chegar pois a língua negra de asfalto terminava um pouco depois do cruzamento para Murta, por obra e graça do espírito santo, só se passava de jipe ou tractor, recursos então ao alcance de poucos.
Assim algumas das vezes aproveitávamos para ir até Murta comer uma sopa de tomate numa tasca que lá havia, pertença de um simpático casal, o sítio tinha uma modesta sala de refeições no casario que circundava uma praça de terra batida, depois da dita sopa regressávamos a casa, pois já sabemos aquela era uma via sem saída, mas ao menos saímos de lá com o estômago reconfortado.
Nessa época se queríamos ir à Comporta só era possível dando a volta por Grândola, mas como os recursos eram escassos acabava-se quase sempre a banhos na lagoa de Melides que o mar aí sempre foi perigoso, os carros e estradas não eram como os de agora, o que tornava um dia de lagoa numa verdadeira aventura, estada e viagens incluídas.
Para terem uma ideia nesse tempo no veículo transportava-se sempre um garrafão com água, não para matar a sede, mas para dar de beber ao radiador e não faltavam também um alicate universal, uma chave de fendas e a célebre correia da ventoinha, não fosse o diabo tecê-las e era sempre melhor que a lotação fosse completa, isto para o caso de ser necessário empurrar a viatura.
Veio depois o tempo em que a estrada se estendeu até à Comporta, o tempo em que a Tróia era do povo, existia lá um parque de campismo imenso sempre povoado de tendas, roulotes, íamos de quando em vez à imensa piscina da Torralta, serviam por lá um sorvete em copo de plástico, tinha em casa uma imensidão desses copos, serviam para fazer castelos e outras construções que a imaginação ditasse.
Imaginem lá que nem sequer era preciso ficar no parque de campismo, acampávamos nas dunas e praias, um pouco por toda a costa vicentina, nem me lembro bem se na altura já seria vicentina, mas que eram umas férias à maneira lá isso eram, outros tempos em que as Troias e Comportas eram frequentadas quase e só por malta desta e eu ainda sou desse tempo.
Isto é que é ser velho...será do século passado? Com toda a certeza...o século passado ainda foi há tão pouco tempo.
Será que essa era a melhor Comporta? Não concordo. Gosto muito mais do movimento que hoje por lá se vive. Gente gira, perfumada, de linguajar arrastado. E a loja da ti Fernanda, uma maravilha, não há muitas assim, nem pela capital. Por isso abençoado tempo moderno. Venha o reboliço e o ambiente selecto! E só mais uma coisa...eu nem gosto lá muito de sopa de tomate!
Nota da redacção: estes dois últimos parágrafos são da tonta da Maria que resolveu sabotar-me o artigo.
“Ciganos que paguem a crise”
ResponderEliminarAlguém alguma vez disse “... aprendemos a voar como pássaros e a nadar como peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos ...” e tenho algumas dúvidas de que alguma vez aprendamos, pelo menos a julgar pelos exemplos recentes que nos entram pela casa dentro, todos os dias à hora dos telejornais.
O caso mais recente chega-nos agora de França, que tem como símbolo original, é bom não esquecer, “liberdade, igualdade, fraternidade ou morte”, bom pelo menos para alguns, porque para uns quantos, julgo saber que são setecentos de uns quinze mil, e pelo menos para já a coisa é bem diferente, pois segundo o Sr. Presidente estão a mais nestes tempos de crise e têm que ser repatriados.
Repatriados curiosamente para duas outras pátrias, a Roménia e a Bulgária que também já fazem parte do espaço europeu e que em conjunto advogam a livre circulação de pessoas e bens, mas então provavelmente os ciganos não serão pessoas, será possível ? então e isso significa que a seguir irão os outros catorze mil trezentos ? não creio que esteja aí a solução para nada Sr. Presidente, nem mesmo para a crise.
Mas a resposta a estas interrogações parece vir agora de Itália que aplaude a medida e resolveu pedir autorização à união europeia para também expulsar alguns ciganos, uma vez que considera que as condições de vida dessas pessoas não são adequadas, mas depois vão expulsá-los para países da união europeia, tal como a França, mas que grande trapalhada senhores italianos e franceses.
Então como estas pessoas são, ao que parece cidadãos da união europeia, mas não têm condições de vida adequadas, isso significa que vamos ter que prever na Europa a criação de uma nação para pessoas com condições de vida inadequadas, talvez um super gueto, ou um colonato, isolado por um muro de betão e arame farpado, está na moda por muito lado, porque não por cá também ?
E se a moda pega a seguir a estes tiques nacionalistas e securitários só falta aparecer por aí um dirigente baixote, de pele morena, franja bem alinhada e descaída sobre o olho esquerdo e com um bigode estreitinho à largura do nariz ... eu sei que a história se repete ciclicamente, mas tenham calma ainda é cedo, isto tudo devem ser só efeitos dos calores da época agravado pela vaga de incêndios e com certeza assim que a temperatura baixar, logo, logo, os dirigentes desta nossa querida Europa cairão de novo na real e rapidamente voltaremos à liberdade, igualdade e fraternidade,... ou a morte de tão nobres ideais.